Ao
responder a esta pergunta, sob o prisma da realidade brasileira, estou
refletindo sobre mim mesma, saindo do silencio em que, tenho certeza, está a
quase totalidade das Mulheres brasileiras, que convivem numa sociedade
etnocêntrica, racista e sexista, que usa e abusa de uma linguagem que veio de
longe, que exprime idéias e conceitos alheios à realidade global do país, além
de projetar sobre os demais segmentos populacionais (negros, brancos, amarelos,
pardos, indígenas etc.), uma série de rótulos e categorizações. Penso aqui como
sujeito de minha própria história, com direito à voz e vez.
Nasci
em Minas Gerais ,
tive um pai ausente após os meus 15 anos de idade, uma mãe “batalhadora”, Eu
cuidei (literalmente) de meus 04 irmãos, fazendo sozinha todo o serviço de uma casa, muito além de minha capacidade,
queria sonhar, brincar, como toda criança da minha idade, mesmo assim considero
a minha infância e adolescência muito satisfatória.
Mas obstinada por natureza, bati o pé e disse:
Quero estudar, e estudei apesar de todas as dificuldades.
Corríamos Eu e minha mãe de gabinete em
gabinete da Câmara e da Assembléia Legislativa de BH, pedindo bolsa de estudos.
Tivemos “sorte”, consegui, e estudei nos melhores
colégios de BH, junto com as meninas brancas e ricas e de famílias
tradicionalíssimas, uma educação de primeira, com todo savoifere.
Posicionei-me
bem por instinto, sabia que não podia competir com “elas” no dinheiro, nos bens
de consumo, mas sempre fui muito boa nos estudos e ganhei a simpatia e amizade
da grande maioria delas.
Foi
assim até chegar à época do vestibular.
Não
tinha dinheiro para fazer cursinho, estudava nas apostilas de uma amiga que
tentava Medicina, Eu queria Arquitetura, Eu passei em todas as fases, porém minha
amiga não!
Mas tive que me conscientizar que se tratava
de um curso que tinha materiais caríssimos, então optei pela Publicidade, lá
conheci o bom o belo e o ruim, joguei o jogo sem medo.
“Foi ai, nesta condição de igual para igual,
que enfim conheci o preconceito o racismo, a inveja e o famoso dito racista: -”
ponha-se no seu lugar “- chegando ao cumulo de ter sido diversas vezes
boicotada em meus trabalhos como publicitária>
Nunca tive nunca terei medo do sistema e nem
de enfrentar e conviver no mesmo nível da classe dominante, a Sociedade Branca;
quando não podiam me deter, me embranqueciam ao bel prazer!
Jamais
esqueci minhas origens, jamais abandonei meu Axé.
Perdi
o interesse pela Publicidade, e fui dedicar-me de “Corpo e Alma” à minha Ancestralidade.
Conhecer profundamente e praticamente os mitos
e os ritos, pois então só nesta época, entendi, que cada Realidade Social tem
uma inteligibilidade própria, que permeia normas, interesses coletivos,
valores, Princípios Morais, enfim, a forma de vida coletiva das pessoas,
responsável por seus sistemas explicativos do mundo e com os quais constroem
suas identidades.
“A
Mulher Negra luta cotidianamente e tem que praticamente gritar:” Estou Aqui”,
existo, sou Cidadã brasileira e quero um espaço para Ser, Viver e Morrer com
dignidade!
Foi
então que conheci os Movimentos Sociais.
Conheci
a história de vida de centenas de mulheres participei da dimensão de suas lutas
intermináveis e o nível de exigência que sofríamos dentro do sistema, sendo
estrelas do cotidiano, artistas coadjuvantes de uma arte maior, que é a Arte de
Viver, dentro de uma perspectiva de aceitação das diferenças e da valorização
de nossa etnia em função de objetivos comuns.
Sempre
causou estranheza, a publicitária Negra, que conhece os ritos do Candomblé,
apesar de ser Especializada em Marketing Político , a Jornalista e também
publicitária Negra, sempre bem vestida, que frequentava a noite da grande BH, como
consumidora e executiva que sempre fui que morava bem, viajava ao exterior,
casada “legalmente” com um dos maiores ícones da publicidade mineira, o
formidável ilustrador Fausto Prats, e que é até hoje uma mulher Negra
independente.
Com
isso, quero ressaltar, aqui, mulheres que se destacam como cidadãs e não como exceções
que brilham. Elas se destacam como pessoas de valor, que realizam seus sonhos e
buscam o respeito de seu grupo, como qualquer cidadão deve fazer, mas não
ocupam cotidianamente as primeiras páginas dos jornais, por serem pessoas,
simplesmente...
Partindo
da premissa de que o ouvido humano aprende a ouvir humanamente o mundo, é o
olhar e não o olho que informa como as coisas são, estabelecendo uma
consciência construída pela emoção e pela razão, que dá unidade ao ato de
perceber e que identifica um dado grupo.
As
mulheres Negras, seus mitos e sua espiritualidade, que se tornou um meio de
revelar uma cultura olhada sempre com preconceito e até temor, oportunizando a
identificação de diferentes modelos de autonomia, seja sexual, intelectual,
político ou espiritual que desenvolveram e continuam desenvolvendo na sociedade
brasileira, com a ideologia do axé, numa forma pluricultural de ser e de
crescer no e com o mundo.
Todas,
mulheres Negras atuantes, conscientes das inúmeras possibilidades/oportunidades
de seu papel de mulher-cabaça que contem e é contida, mantenedora da vida, ser
mágica, bruxa, ou benzedeira, curandeira, parteiras, que se transforma por dentro e
por fora, se metamorfoseando e explodindo em humanidades.
Sabemos
que é preciso ir em frente, já que esta é a nossa tradição.
Nossas
mães, avós, bisavós e tataravôs nos legaram a força da resistência, a
capacidade de amar e doar, cuidando de filhos que nelas foram plantados sem
permissão ou ternura, mas que amaram com desvelo e dedicação, seguindo a sua
tradição de Iyá-mi – grande mãe, geradora de todas as coisas vivas, que tudo transforma
cozinha, reaproveita, recria, semeia. Refazendo tudo, nossas ancestrais
caminharam, espalhando amizade, criando novos laços e uma nova concepção de
família, na qual todas as crianças das comunidades sempre encontraram acolhida.
Mulheres
Negras vistas apenas como símbolo sexual ou como amas-de-leite não fazem parte
de nosso futuro estejam todos certos disso! Mulheres como Maria Beatriz
Nascimento, (pesquisem) que ousaram pensar, discordar, contestar e criar um
modo próprio de ser no mundo, ainda pagam - como eu estou pagando – (como a
sentença proferida no processo que se arrastou por 05 anos na segunda vara de
família e sucessões dos foros, tanto de Hortolândia e Campinas, uma execração
no mínimo maledicente, racista, preconceituosa e nefasta, longe de humanismo,
uma bizarrice do judiciário brasileiro, demonstrando claramente, enfim sem
mascaras como sempre foi e é a praxe, um branco diz a verdade, um negro mente...).
Nossos
filhos e netos estão recebendo elementos que lhes permitirão forjar uma nova
sociedade para o Negro no Brasil, que seja mais justa e equânime e pela qual
Zumbi Lutou!
Chegará
um tempo, tenho certeza, em que Mulher Negra
e Violência não estarão tão interligadas.
Haverá
um tempo, também tenho certeza, em que não seremos mais, vistas como loucas
obstinadas, visionárias, sonhadoras, ou como portadoras de “incontinência verbal” (sic - Dr. Bernardo Mendes Castelo Branco
Sobrinho, me define em sua magistral sentença proferida em 04/10/2013
e publicada aos 14/10/2013, no processo 0054256-27.2009.8.26.0114, of
course – segredo de justiça), mas simplesmente, como Mulheres Negras
brasileiras que sabem que o sonho de ter direito a ter direitos pode tornar-se
realidade!
MAHGARÔH PRATS/ 19 DE NOVEMBRO DE 2013.
Fone (19) 999237040
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Também, faço atendimentos de astrologia, numerologia e tarô, aos
sábados e domingos das 10hrs às 14hrs, no setor esotérico da feirinha do centro
de convivência de campinas/SP – praça fluminense s/n.
Fontes de consulta:
Pedagogia do Oprimido
– Paulo freire
O mito do
desenvolvimento econômico – Celso Furtado
Mulher e Escrava:Uma
introdução histórica ao estudo da mulher negra no Brasil – Sonia Maria
Giacomini
A cor da ternura –
Geni Mariano Guimarães
A violência e o
sagrado – René Girardi
Grandeza e decadência
do culto de Iyámi Oxorongá entre os yorubás – Pierre Verger
Um comentário:
Todas, mulheres Negras atuantes, conscientes das inúmeras possibilidades/oportunidades de seu papel de mulher-cabaça que contem e é contida, mantenedora da vida, ser mágica, bruxa, ou benzedeira, curandeira, parteiras, que se transforma por dentro e por fora, se metamorfoseando e explodindo em humanidades.
Sabemos que é preciso ir em frente, já que esta é a nossa tradição.
Nossas mães, avós, bisavós e tataravôs nos legaram a força da resistência, a capacidade de amar e doar, cuidando de filhos que nelas foram plantados sem permissão ou ternura, mas que amaram com desvelo e dedicação, seguindo a sua tradição de Iyá-mi – grande mãe, geradora de todas as coisas vivas, que tudo transforma cozinha, reaproveita, recria, semeia. Refazendo tudo, nossas ancestrais caminharam, espalhando amizade, criando novos laços e uma nova concepção de família, na qual todas as crianças das comunidades sempre encontraram acolhida.
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